Uma Pequena Crônica sobre a Morte do Palhaço Pipoqueiro
Vida, essa ilusão que nos inebria. Vida, essa medida que não cabe nela mesma. Quem quer viver pra sempre? Quem quer deixar de viver? Tão apegados a vida somos, que esquecemos a terrível verdade. Aquela que fingimos esquecer. E quando alguém conhecido morre, alguém que amamos, alguém até que não gostamos muito, Ficamos espantados, por essa fila andar. No fundo sabemos mesmo que sem entender direito que a morte de outra pessoa, também é um sinal de nossa própria morte.
Dessa vez quem morreu, foi o Palhaço Pipoqueiro, aquele que eu conheci, na praça da saudade ainda jovem. Amizade iniciada na juventude, carinho e bem querer que fica na maturidade.
Era fácil saber que estava chegando, um miado de gato histérico o antecedia, risos e curiosidade se espalhava por todo lado. Era assim que era conhecido. Pelo miado do gato, pelo saco que carregava e que muita gente achava que tinha um gato maluco ali dentro.
Eu o via não somente na praça da saudade, mas também na Deodoro e também nas praias de São Luís, ele perambulava muito pra ganhar o pão de cada dia, era alegre, era trabalhador, embora em uma conversa mais atenta, podia-se perceber uma certa tristeza que é típica de qualquer palhaço talentoso.
-Tu é palhaço pipoqueiro ou pipoqueiro palhaço? - Era assim que eu o abordava.
Ele sorria e conversávamos um pouco sobre tudo e sobre nada. Então ele vendia os produtos que sempre encantava a criançada e seguia seu rumo atrás de mais vendas.
A morte vem sorrateira e leva pessoas queridas, pessoas maravilhosas que com certeza vem ao mundo contribuir de alguma forma com a nossa evolução. Ele se foi e mal acredito, porque sou igual a qualquer outro que mesmo sabendo de nossa mortalidade, fica confuso diante dela. Estou recordando do miado, do carrinho de pipoca, dos brinquedos, de sua figura alegre e andarilha que já fazia parte do cenário da cidade, de nossa ilha.
Ele morreu, isso é um fato, mas foi depois de morto que lembrei novamente do nome daquele jovem que conheci: Romualdo.
Fernando Reis.
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