O ASTRONAUTA - PARTE I
Quando abriu os olhos, os raios do sol quase o cegaram, virou o rosto em direção ao chão, sentiu que era pedrogoso, porque fez atrito com o capacete. Olhou novamente pro céu, os filtros da tela do capacete já estavam ativados. Tentou sentar-se no chão, não conseguiu. Revirava-se com esse intuito e seu corpo pateticamente não obedecia. Não tinha perdido o movimento, era simplesmente uma dor gigantesca. Cada osso dele estava quebrado e a dor era mais forte que a vontade de sentar-se. Quando a dor diminuiu, tentou compassar a respiração, fazendo longas expiradas, semicerrou os olhos para tentar ver o estado em que se encontrava. A capsula estava bem ao seu lado a poucos metros, completamente destruída, o impacto da queda a transformou em um monte de ferro retorcido e queimado. Como podia ter sobrevivido a queda e a explosão, questionou-se. Quanto tempo ficara ali desarcodado. Puxou o braço esquerdo, parecia que estava inteiro, só a mão não respondia aos comandos e estava visivelmente deformada. Olhou para o outro braço e viu que a situação era pior. Não se distinguia bem onde era a dobra do cotovelo, onde era o antebraço e a mão com os dedos. O display da tela do capacete sinalizou que havia menos de 25% de oxigênio no tanque de reserva. Sinalizava também vazamento de oxigênio no traje espacial. Embora houvesse 99% de chance dele morrer ali depois de alguns minutos, não se desesperou. Olhou novamente para o céu e tentou ver onde estava a terra.
A criançada ao redor da mesa batia palma e cantava parabéns pra você, o bolo era grande e tinha os bonecos do Toy Story, na verdade um boneco dominava o bolo, Buzz lightyear. Jorge assoprou a vela e desejou que um dia se tornasse astronauta igual ao Buzz…
Ele não sabe que horas apagou novamente, desperta em cima de uma mesa, há três criaturas de olhos grandes e cabeça grandes o observando. Parece que eles estavam aguardando ele acordar. Um abriu a sua boca, enquanto outro enfiou um tubo goela abaixo. Ele tentava gritar, impedir que o tubo invadisse sua garganta, mas já era tarde, só saia grunhidos abafados, sons guturais feitos por uma garganta ocupada. Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. Tudo escurece novamente.
-Ei Jorge, as meninas vão estar nos esperando lá no bar do Almir. - Diz Antonio bem alegre.
-Não vai dar amigo, daqui dois dias, faço uma prova para o ITA, a concorrência tá absurda. Não posso vacilar na reta final.
-Cara, relaxa, você vai passar, Julia vai ficar desapontada se você não for.
-A Júlia vai?
-Sim e só vai pra te ver, vamos lá, amigo.
-Não, não dá. - Jorge coça a cabeça e volta para os cálculos.
-Desisto, você é um caso perdido, amigo. - A porta do quarto se fecha.
Jorge abre os olhos e percebe que ainda está deitado em uma espécie de maca metálica. Está despido. Sente que uma criatura está segurando seu pênis, enquanto começa a introduzir uma espécie de arame cromado em sua uretra. Ele tenta gritar, mas não sai som de sua boca. Tenta se mexer e não consegue. Está imóvel e a dor que sente é insuportável. Um zunido de furadeira é escutada na sala. Uma quarta criatura entra na sala e as três criaturas se colocam em postura de reverência, pois ficaram em fileira e com a cabeça baixa. A criatura olha para Jorge, olha para as criatura e começa a emitir um som alto. Era como se fosse um miado de gato, um zunido de abelhas. Quanto mais ela falava, mais as outras criaturas abaixavam a cabeça. Até que uma delas abriu a boca de Jorge e começou a puxa algo metálico e comprido. Aquilo saia das entranhas dele, como se estivesse rasgando suas tripas. Jorge urra de dor até desmaiar de novo.
Jorge olha seu nome na lista de convocados e não está lá. Outros tentam olhar, mas ele não deixa ninguém chegar perto, mal consegue acreditar que seu nome não estava ali, naquela lista. O capitão passa perto dele. Jorge tenta acompanhar os passos dele andando, mas é em vão, resolve correr, alcança-o e segura-o no ombro.
-oficial, oficial, espere!
-perdeu a noção do perigo cadete? - Vocifera o capitão.
-Meu nome não está na lista, deve ter ocorrido algum erro. Não pode ser.
-Não há erros , eu mesmo verifiquei a lista.
-Mas eu sei que eu fechei a prova, eu tenho certeza que eu tirei a nota máxima.
-E de fato tirou.
-E porque meu nome não está lá, oficial?
-Você foi escolhido para outra tarefa, seu destino é outro.
O oficial sem explicar mais nada, dá as costas e deixa Jorge chocado no meio do corredor.
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