Eu e o piolho

Quando se é um adolescente pobre
que apanha um chute na cara
como fraterno cumprimento do pai
tudo parece um monte de merda
sem sentido
Eu andava fedendo
não tinha dinheiro para um desodorante
não tinha nem o que comer direito
meu pai era muito bom em duas coisas
bom pra espancar e humilhar
bom em não sustentar sua família
Fedor e fome
duas coisas que me acompanhavam na adolescência

Havia muitos outros jovens iguais a mim
todos fodidos na vida
A gente se enxergava
cada um percebia que tinha algo errado

Nunca esquecerei o dia
Quando Gorete Serra
pegou um piolho no meu ombro
Sem dizer pra ninguém
Discretamente me entregou
Era um piolho enorme,
um boi pesado, cheio de sangue
Eu olhei nos olhos dela
Agradeci por aquele segredo
gratidão


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