OBSESSÃO
Com a conta de luz, havia um bilhete, não consigo te
esquecer, ainda te amo, Solange estremeceu ao ler aquele recado, amassou-o,
jogando pela janela.
No primeiro dia de emprego, o gerente lhe pediu que
atendesse a todos com muita atenção e delicadeza, não era por ser uma simples
sapataria do João Paulo que não teria o melhor atendimento, no final do
expediente, deveria varrer a loja, conferir o estoque e que o salário...afinal
de contas são muitos impostos, a uma crise econômica, etc.
Para Ribeiro esses detalhes não importavam, tinha um
emprego, algo que em São Luís está cada vez mais difícil, com o tempo o gerente
tornou-se quase um pai para ele, dava-lhe conselhos e até uma vez o convidou
para almoçar.
A felicidade era quase completa, só lhe faltava um grande
amor, foi quando a viu com a farda do colégio batista, devia ter uns 16 anos,
acho-a muito bonita e criou o hábito de
ir para a frente da loja para vê-la passar.
Não conseguia tirá-la da cabeça, queria saber o nome, onde
morava, queria escutar sua voz, queria namorá-la.
Resolveu segui-la para descobrir onde morava, mas ela
percebeu que estava sendo seguida e perguntou o que ele queria, ele a segurou pelo
braço e gaguejando perguntou-lhe o nome, ela se assustou, deu um safanão e saiu
correndo.
Decidido, descobriu que se chamava Solange e que tinha
quatorze anos e que morava na Jordoa, no outro dia, quando ela passou em frente
à loja, chamou-a pelo nome, ela virou-se espantada e ficou olhando, eu te amo,
Solange, os outros vendedores riam da cara do rapaz. Ela deu as costas
apressando o passo, Ribeiro meio triste, percebeu que ela morria de medo dele,
logo ele que a queria tão bem.
Desesperado, foi ao coroado pedir ao pai de santo mais
famoso das redondezas que fizesse um trabalho para conquistar aquela menina, o
macumbeiro pediu uma fotografia dela sorrindo, o nome completo e quinze reais
para as velas, assim o trabalho seria forte.
Ribeiro inventou para Wadeco, o fotógrafo que ela era uma
amiga e que queria fazer uma surpresa. Acertaram o preço e foi até a casa da
jovem como havia indicado. Ribeiro estava conferindo o estoque no fundo da
loja, quando ao virar se depara com Wadeco, Solange e uma senhora que parecia
ser uma mãe contrariada.
O fotografo não quis nem conversa, enfiou um certeiro
sopapo no pé de ouvido dele e
disse para respeitar
cara de homem, depois foi a vez da mãe da menina enfiar outro sopapo.
Quando acordou, o gerente segurava o amoníaco com uma das
mãos balançava a cabeça, dizendo, rapaz, rapaz, toma juízo.
- Já que não deu certo, meu fio, passa um sonho de varsa no
rabo, e embala de novo e dá pra ela, que num faia. Ih, ih, ih!
Recomendou o velho pai de santo para Ribeiro que tratou
logo de fazer o recomendado, o problema é que quando ele foi oferecer o bombom,
Solange saiu correndo. No outro dia, o pai e o irmão da menina apareceram na
loja.
- você está perseguindo a minha filha?
Antes de responder, um soco certeiro nas fuças de Ribeiro
fez tudo escurecer. Os dois pararam de bater quando o gerente chamou a polícia,
na delegacia, o delegado, que era também pai de uma mocinha, ficou revoltado
com o assédio e na primeira desculpa do infeliz, enfiou também um sonoro
sopapo, Solange que fora testemunhar contra o inconveniente enamorado, não se
aguentou e acabou rindo.
Três dias depois e ainda de cara inchada, devido aos
sopapos o coitado voltou para trabalhar, o gerente passou mais de uma hora
dando um sermão no jovem e disse que não iria demiti-lo, mas que ele iria
trabalhar na filial da cidade operaria.
Para alguns a esperança é a última que morre mesmo, mal se
recuperou e voltou ao coroado para se queixar ao pai de santo.
- agora vai dar certo, meu fio, deus é pai! Ih, ih, ih!
Presta tenção, acenda três velas pretas, três brancas, três vermelhas, traga
uma dúzia de ovos (pode ser de granja), um pato gordo, um quilo de arroz, uma
lata de óleo e duzentos reais que eu vou fazer esse despacho lá em Codó, lá num
faia, meu fio, num faia. Ih, ih, ih!
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