SEIR E ODNANREF
Para Mila Makeba
A sinfonia celestial é
acompanhada de luzes cintilantes que bailam em sincronia na imensidão do
infinito. SEIR em profunda alegria louva a manifestação do Eterno diante de si.
Ainda maravilhada, sobrevoa o oceano de flores perfumadas que separam as
dimensões dos mundos espirituais.
Perto das sombras, ODNANREF
enfurecido consome-se em impaciência diante de tanta demora. Maldita, maldita! Por
que a demora? Não sabe que sem o bater de suas asas melódicas, a febre que me
arde as entranhas, consumirá minha carne, minha sanidade? Maldita és tu se não
voltares, maldita és tu se voltares. SEIR, SEIR, furacão de sensações e emoções
que me desolam.
O impaciente demônio retorna
a escuridão de seus infernos, transitando no medo de perde-la e a ansiedade da
espera, na sua frente duas crianças demônios brincam com alguns diamantes,
distraídos, não se dão conta da morte inesperada, são esmagadas, uma poça de
pus e sangue negro com vísceras foi tudo que restou delas. O demônio sente que
pisou em algo viscoso e pragueja, enquanto limpa o casco sujo de meleca em uma
pedra. Um casal de demônios mal pode acreditar que seus lindos filhos demônios tiveram
suas vidas tão repentinamente ceifadas.
Quando finalmente chega em
seu trono de rochas ígneas, surpreende-se com a figura de SEIR a sua espera.
Quase um sorriso lhe escapa, quase sua face denuncia a alegria em revê-la. Ela
voltou, regozija-se por dentro. Sem transparecer seus sentimentos, o demônio
fecha a cara e senta-se em silêncio, contendo além de sua alegria, a
curiosidade de saber o motivo de tanta demora.
-Não vai perguntar por que
demorei?
-Deve ter tido suas
razões...
-Você tá chateado comigo?
-Não se iluda SEIR, você tem
minha estima, mas tenho coisas mais importantes pra me preocupar.
Para SEIR que conhece a
essência daquele demônio, aquelas palavras não traduzem os reais sentimentos
dele. Ela pode ver além do que ODNANREF tenta disfarçar.
-ODNANREF, não precisa
fingir pra mim, esquece que eu te conheço?
-Se me conhece, por que
perguntas então?
SEIR pode ver a poucos centímetros
os dentes afiados de ODNANREF e assim tão perto, ela lembra o risco que é estar
perto de tão imensa criatura. E recua.
-Hoje o criador mostrou a
face dele.
-Grande coisa, já vi aquela
cara feia.
-Não diga isso ODNANREF,
você também é uma criatura dele!
-RARARARARARARARARA
SEIR sempre se choca com a
forma desrespeitosa que o demônio se refere ao criador.
-Não sou mais escravo dele,
nunca mais. E no meu principado, não ouse mais falar sobre ele. Isso me
entedia.
-Aprendi uma melodia nova no
paraíso, você quer ouvir
O coração do demônio falta
pular com aquela notícia, mas ele disfarça pouco caso.
-Tanto faz, pode ser, hoje estou
com paciência.
SEIR vibra suas asas e uma
linda melodia ecoa por todos os infernos. As criaturas mais sebosas saem de
seus buracos imundos pra escutarem melhor, aquela música que lembra, quando
viviam perto do criador.
Surpreso com aquele milagre,
com aqueles acordes que lembram, quando era um arcanjo e vivia sob os pés do
Eterno, ODNANREF entrega-se aquelas notas. O coração negro daquele demônio bate
de forma suave, seguindo o ritmo da música. Quando SEIR termina de bater suas
asas, uma lágrima desce pelo rosto do demônio que de tão entregue ao momento,
nem se dá conta do fato.
-Você gostou ODNANREF?
Sem dizer uma palavra o
demônio abre suas imensas asas e voa pra longe. Por horas sobrevoa os infernos até pousar na
montanha dos sem fé. Lá olha para o céu e brada.
-Por
queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee?
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