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PERAMBULEI PELAS PLANÍCIES
SUBI E DESCI MONTANHAS
PASSEI FOME E FRIO
BUSCANDO O MISTÉRIO DAS COISAS.
UM DIA EM MINHAS ANDANÇAS
ME DEPARO COM UM VELHO SENTADO EM UMA PEDRA
NO MEIO DO CAMINHO
DIANTE DE UMA BIFURCAÇÃO.
PERGUNTEI AO IDOSO SOBRE O MISTÉRIO DAS COISAS
DE TANTA VIDA VIVIDA
ALGUMA COISA SABIA
APÓS REFLETIR BASTANTE
ROMPEU O SILÊNCIO DIZENDO
QUE O MISTÉRIO DAS COISAS NÃO CABIA NO MUNDO
VELHO TOLO, QUE SABE DOS MISTÉRIOS?
NÃO CONSEGUE ESCOLHER UM SIMPLES CAMINHO
FICA PARADO NO MEIO DA ESTRADA
SEM SABER SE VAI PELA ESTRADA A DIREITA
OU PRA ESQUERDA.
E SE A ESQUERDA FOR A ESTRADA ERRADA?
OU A DIREITA?
RETRUCA O VELHO CONFORTÁVEL EM SUA PEDRA.
MELHOR UMA ESCOLHA ERRADA,
DO QUE A PARALISIA DA INCERTEZA.
E SAIA DAQUI AGORA
QUE LHE DOU UMA BORDOADA COM MEU CAJADO.
MAIS COVARDE, DO QUE INSEGURO
O VELHO CORREU ATÉ SUMIR.
.



DOIS DIAS A FRENTE CONTEMPLO
A BEIRA DE UM LAGO UMA BELA MOÇA
DEITADA NUA A MARGEM ME CHAMA
PARA NADAR EM SUAS ÁGUAS MORNAS
RECUSO O CONVITE COM EDUCAÇÃO
RECITANDO UM POEMA ANTIGO
QUE FIZ PARA QUANDO UMA MOÇA LINDA E NUA
A BEIRA DE UM LAGO
ME CONVIDASSE PARA MERGULHAR EM SUAS ÁGUAS MORNAS.
ENSAIOU UM SORRISO CONSTERNADA
ENQUANTO ME ACENAVA COM A MÃO.
O CAMINHO DA SABEDORIA É LONGO
NÃO TENHO TEMPO A PERDER
COM DISTRAÇÕES DE VELHOS INSEGUROS SENTADOS EM PEDRAS
E MOÇAS NUAS QUE ME CONVIDAM PARA BANHAR EM LAGOS.

AINDA É DIA, QUANDO VEJO
UMA RESPLANDECENTE TORRE DE MARFIM
VEJO POETAS, ESCRITORES MOSTRANDO SEUS LIVROS
RECITANDO VERSOS ENTRE ELES
E SE APLAUDEM, SEMPRE QUANDO PODEM.
ESTÃO TODOS MAL VESTIDOS, DENTES PODRES
UNHAS SUJASE COMPRIDAS
CARA DE FOME E CANSAÇO
DECORAM SEUS ROSTOS SEM SORRISOS.
EM TODOS A MESMA EXPRESSÃO ENTENDIADA
QUE SÓ OS GRANDES POETAS E GRANDES ESCRITORES JAMAIS LIDOS
PELA HUMANIDADE CONSEGUEM FAZER.
A SERENIDADE E PROFUNDIDADE DE SEUS ATOS
DESAPARECE DAQUELA REUNIÃO
QUANDO UMA CARRUAGEM DOURADA
QUE TRAZ UM ESCRITOR BEM-SUCEDIDO
PASSA POR DEBAIXO DELES
JOGAM PEDRAS INÚTEIS, ESCARRAM E COSPEM
CHAMAM PALAVRÕES, FAZEM CORO DE VAIAS
VOCIFERAM FEROZES
VENDIDO! TRAIDOR! CANASTRÃO!
SUAS VEIAS SALTAM, SEUS OLHOS SACAM DAS ORBITAS
A PAZ SÓ RETORNA, QUANDO OUTRO POETA DA TORRE
TOSSE PEDINDO ATENÇÃO
E RECOMEÇA A LEITURA DE SEUS VERSOS PROFUNDAMENTE HERMÉTICOS
TODOS AQUIETAM-SE
OLHOS RETORNAM AS ORBITAS
VEIAS DEIXAM DE SALTAR
ROSTOS QUE SE TRANFIGURAVAM DE ÓDIO
ASSUMEM NOVAMENTE O AR BLAZÉ.
APÓS MUITAS LEITURAS E MUITAS LEITURAS,
CANSO ME DAQUILO
DESPEÇO-ME DELES
PRINCIPALMENTE DO MAIS NOTÓRIO
QUE TEM O DEDÃO DO PÉ SALTADO
DO SAPATO FURADO QUE USA
SATISFEITO ME OFERECE SUAS PILHAS DE LIVROS
ENCALHADOS PARA EU LER NA VIAGEM
AGRADEÇO E SAIO CORRENDO
JÁ EM UMA SEGURA DISTÂNCIA
PERCEBO CAMPONESES CURIOSOS
EM TORNO DA TORRE
QUEREM SABER DO QUE SE TRATA ,
AQUELAS PALAVRAS ESTRANHAS QUE RECITAM
COMO SÃO IGNORADOS, DESISTEM
SEGUEM SEU RUMO.
EU TAMBÉM SIGO O MEU

ESCURECE, CHEGO EM UMA ALDEIA
NA PORTA DO PRIMEIRO CASEBRE
UMA MOÇA COÇA SUAS PARTES
E DIZ QUE POSSO CHEIRAR SEUS DEDOS
POR UMA MOEDA DE BRONZE
E SE TE DER UMA DE PRATA?
DEIXO MEUS DEDOS CONTIGO
PISCA PRA MIM, SORRINDO.
DESISTO DA ALDEIA E DA MOÇA
QUE TINHA OS DEDOS FEDIDOS A PEIXE OU A CAMARÃO
DEITO NA RELVA DO CAMPO.
É COMO ESSA NOITE DE ESTRELAS CADENTES
O MISTÉRIO DAS COISAS, REFLITO.
TALVEZ O MISTÉRIO DAS COISAS ESTEJA NOS DEDOS DAQUELA MOÇA
NO CHEIRO DE PEIXE OU DE CAMARÃO QUE VEM DELES
TALVEZ O MISTÉRIO DAS COISAS
ESTEJA NAS PESSOAS SIMPLES QUE QUERIAM ENTENDER OS POETAS E ESCRITORES
DAQUELA TORRE DE MARFIM.
TALVEZ O MISTÉRIO DAS COISAS ESTIVESSE NAQUELE VELHO TOLO
PARADO NO MEIO DO NADA SEM SABER QUE RUMO TOMAR.
SÓ NÃO SINTO QUE ESTÁ EM MIM
SE ESTIVESSE EM MIM
EU SERIA COMO UM CACHORRO CORRENDO ATRÁS DO RABO
QUERENDO ALCANÇAR SEM CONSEGUIR
AQUILO QUE JÁ TENHO.

DEITADO NA RELVA
ESCUTO O COACHAR DE UM SAPO CURURU
POSSO VÊ-LO A MINHA FRENTE
INCHADO, CANTANDO, OLHOS GRANDES E NEGROS
O QUE PENSA ESSE SAPO?
SABE AO MENOS QUE EXISTE?
SE EXISTE, SEM SABER QUE EXISTE, EXISTE MESMO?
O SAPO NÃO PENSA QUE EXISTE
O SAPO EXISTE INDEPENDENTE DE SE DAR CONTA QUE EXISTE.
O SAPO SÓ É.
TENTO POR UM MOMENTO SER
SEM SABER QUE EU SOU
SEM PENSAR QUE EXISTO
SEM DEIXAR QUE MINHAS IDÉIAS
CONTAMINEM O MOMENTO DE SER
EU SENTI A BRISA DA NOITE
A RELVA TOCANDO O MEU CORPO
VI AS ESTRELAS NO CÉU
ESCUTEI MINHA RESPIRAÇÃO
O COACHO DO SAPO
O SOM DOS INSETOS
DA ÁGUA NO CÓRREGO
DA BATIDA DE CORAÇÃO NO MEU PEITO
EU NÃO PENSO
EU SÓ EXISTO
SE ACHO QUE NÃO PENSO
ENTÃO ACABEI DE PENSAR
HOMENS NÃO SÃO SAPOS
HOMENS PENSAM SEMPRE
OLHO O SAPO NOVAMENTE
TENHO INVEJA DELE AGORA.
QUE EXISTE SEM SABER QUE EXISTE
QUE NUNCA VAI SENTIR O MEDO
A FRUSTRAÇÃO DE DEIXAR DE EXISTIR
PENSO, LOGO DESISTO!



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