Crônicas do fim do mundo
Crônicas
do fim do mundo 1
A
avenida Paulista estava congestionada, ninguém ia pra lugar nenhum.
Olavo olha para o relógio apreensivo várias vezes. Pelo retrovisor
o motorista do táxi percebe. Era um judeu sefaradita gordinho de
kipá com barba por fazer.
-Deve
ter acontecido uma batida, só pode ser.
Olavo
olha mais uma vez para o relógio, estava muito atrasado para reunião
e ainda estava muito longe de lá.
-Senhor,
ligue o rádio naquela estação...talvez eles informem o que está
acontecendo.
O
motorista imediatamente sintonizou na 148,3 FM . Era a estação de
rádio que sempre informava sobre problemas no trânsito,
congestionamentos, acidentes. Só havia estática.
-Doutor...tá
fora do ar, aliás todas estão fora do ar.
-Quê?
Tá quebrado seu rádio é isso?
-Não,
não, ele tá funcionando , as rádios é que não estão no ar.
-Isso
não existe amigo.
O
motorista insiste em sintonizar em várias estações e nada. Nesse
momento um grande estrondo acontece. Olavo olha assustado para o
motorista que também estava surpreso com aquilo. Ambos saem do carro
para ver o que era aquilo.
Inumeras
pessoas estão fora de seus carros também bem mais a frente da
avenida prédios caem como se fosse dominós emparelhados. Jatos
supersônicos e helicopteros de guerra passam em vôos rasantes um
pouco acima deles em direção aos prédios que estão sendo
demolidos. Explosões e rajadas de metralhadoras são escutadas.
Um
grande medo invade o coração de Olavo e ele começa a correr na
direção contrária àquela cena de guerra. Alguém grita pra ele.
-Senhor,
senhor...
Ele
se vira e é o motorista do taxi que o levara até ali.
-O
senhor tem que pagar a corrida.
-Quê?
-A
corrida senhor!
Mal
termina o motorista de cobrar e um grande bloco cai dos ares bem em
cima dele. Olavo se desvia de outros destroços que começam a cair
por toda parte, enquanto corre desesperadamente pra salva a sua vida.
Atrás dele, mais estrondos , explosões, rajadas de metralhadora.Uma
multidão também corre para salvar as suas vidas, destroços
gigantes as vezes atingem dezenas de pessoas ao mesmo tempo.
Desesperado para salvar-se Olavo entra em uma travessa e corre mais
algumas ruas até se render ao cansaço. Cai no chão perto do meio
fio e tenta recuperar o fôlego. De onde está pode ver muita poeira
e pessoas correndo pela avenida. Prédios continuam a desmoronar. O
que poderia ser aquilo, terremoto, terrorismo, Olavo tentava entender
o que estava acontecendo pra gerar tanto caos. A visão da travessa é
limitada pelos prédios desmoronando e pela poeira. Helicopteros e
jatos vão e vem atirando bombas e atirando rajadas de metralhadoras.
Estão muito perto, mesmo sem forças e exausto, Olavo se levanta e
volta a correr o mais rápido que pode.
Mais
uma explosão e um grande pedaço de ferros e concreto esmaga sua
perna direita. A dor é menor que a surpresa de ser pego daquele
jeito. Demora a entender que estava sem movimento e ainda esboça
instintivamente o desejo de correr. A sensação é a de que alguém
está puxando a sua perna, por isso ele olha e se assusta com o que
vê. Sua perna tornou-se um revirado de sangue, carne e ossos
expostos, o pé estava pendurado por um pequeno pedaço de pele que
imediatamente rompeu-se, quando ele se contorceu de dor. O sangue
escorre com muita rapidez, Olavo se sente frio e sem forças, a vista
começa a escurecer, mas antes de desmaiar ele consegue ver
caminhando pelos destroços a sua frente uma gigantesca criatura de
pele cinza.
Comentários
Postar um comentário