Não me convide para o jantar

A estrada de terra, devido a chuva, tornou-se um mar de lama vermelha, Andréa anda devagar para não escorregar naquele terreno difícil. Não é só por causa da dificuldade do terreno, ela está exausta demais, as pernas estão fracas, tinha passado a noite toda correndo, enquanto era perseguida por aqueles caipiras sádicos, que queriam levá-la de volta para o cativeiro de onde tinha escapado, graças a ajuda de seu amigo, Jorge. Pobre Jorge! Ao lembrar dele, de como fora trucidado por aqueles malditos covardes, Andréa sente uma vontade irrefreável de chorar, ela tenta segurar as lágrimas, mas soluça, uma, duas , três vezes. Até que desiste de se segurar e finalmente chora. Entregue ao choro convulsionado, ajoelha-se naquela estrada de lama e sucumbe a sua tristeza e desespero. Em um dado momento, ela percebe o som de um caminhão aproximando-se, levanta-se e desesperada começa a pular e acenar para que o o motorista do caminhão a perceba ali e a socorra.
Deu certo. O caminhão para a poucos metros dela, que afoita corre até a cabine para pedir uma carona até a cidade mais próxima. De repente, ela estremece , ao se deparar com o motorista que está acompanhado. Era João Luiz e Renato Dias, os dois malditos caipiras que tinham feito a vida dela nas ultimas 48 horas um inferno na terra. 
-Olha só Renato quem é vivo sempre aparece. - Diz João Luiz, mostrando a boca cheia de dentes podres e careados, enquanto sorri.
Renato salta da cabine do caminhão e segura Andréa pelos braços. Ela tenta se desvencilhar, mas ele era um homem alto e forte, todos seus esforços eram em vão. João também desce e por um minuto observa o desespero de Andréa. Ela o cospe no rosto. Ela vê o cuspe descendo pelo rosto e ele limpa com a mão a saliva, e limpa os dedos sujos de saliva com a boca. Logo depois,Andréa sente uma forte pancada no rosto e tudo escurece.
O velho Saturnino está cortando o pé, a serra está meio cega, então o esforço é bem maior, o suor do velho escorre e pinga em gotas grandes em cima da perna do rapaz.
-Arre égua! Nem parece que é carne jovem, muié! - Saturnino fala pra velha Maria.
-Ô, seu velho tonto, o fio da serra tá cego, amola que fica mió. - Diz a velha.
Enquanto o velho amola a serra que estava usando, o rapaz geme de dor. Os gemidos incomodam a velha Maria que está entrando na menopausa, por isso sente-se arreliada com qualquer coisa.
-Cala boca, seu monte de bosta. - Grita Maria, batendo com a colher de pau na cabeça do rapaz.
Saturnino acha a cena engraçada e não segura a risada.
- Hhihihihihihi – Tu é muito arreliada, muié.
-Bato em tu tombém, seu traste. Cuide logo, me dá essa perna pra refogar, que tá demorando. - Ordena a velha Maria.
O velho corre apressado pra terminar de serra a perna do rapaz, não queria de forma alguma atrair a raiva da velha Maria pra ele. O jovem geme de dor, enquanto sua perna é serrada sem piedade.
-Não , não. Pelo amor de Deus. Não faz isso. Ai. ai. ai. - Implora o rapaz.
-Saturnino, cala esse imundo, num tô aguentando essa choradeira dele.
-Hihihihihihihihih – Ri Saturnino enquanto aplica um golpe violento na cabeça do rapaz, deixando-o desacordado.
A velha refoga o pedaço da perna com alho, cebola, pimenta de cheiro, tomates em sua panela grande de fazer feijoada. O cheiro da carne refogada lembra o de carne de porco, não é um cheiro desagradável, mas de comida boa sendo preparada. Saturnino sente o cheiro que toma de conta da cozinha e sente a boca cheia de saliva, a barriga ronca de fome.
-Eita que essa feijoada, vai ficar deliciosa muié. Hihihihihihihihi
-Humpf. Ainda tem muito o que cozinhar até ficar no ponto. Melhor tu comer um pedaço de fígado com farinha pra aguardar o prato ficar pronto. A velha dá a faca afiada ao marido. Ela sabe o tamanho da fome dele.


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